Viver em BH é...

... ter um bêbedo a cantar ópera enquanto se procuram as chaves de casa na mochila, que interrompe a cantoria para perguntar se queremos ajuda a passar a bicicleta pelo portão enquanto ele próprio mal se consegue aguentar em pé.

Treino de Incêndios

Hoje fui a um treino sobre incêndios e como apagar o ínicio de um com um extintor. Foi tudo muito sério e interessante e aprendi um monte de coisas. 

O que mais gostei de aprender foi:

1. Como apagar uma botija de gas butano a arder usando só um dedo!

2. Como tostar a testa toda a tentar apagar um bidon a arder.

A primeira foi obrigatório fazer para perdermos todos o medo de botijas de gás e a segunda, bem... não era suposto ter acontecido. Fui a última das últimas a usar o extintor e o senhor bombeiro pertinho do final entusiasmou-se e decidiu pôr o dobro da gasolina necessária no bidon. O resultado foi uma chama enorme que tentei apagar com 2 extintores diferentes sem sucesso, peguei fogo à relva que havia em volta e ainda tostei a testa e a bochechas todas.

Não devo ser convidada para fazer parte do corpo de bombeiros mas pelo menos passei uma manhã diferente e engraçada.

Terras D'el Rei

Há muito poucas coisas que me deiam tanto prazer como um copo de vinho tinto. O Brasil tem muito poucos vinhos de produção nacional e comparados com os nossos sabem a pouco. Depois de morar 5 anos no Alentejo tornei-me fã incondicional dos vinhos alentejanos e sofro muito com isso... 

No ano passado por várias vezes dei por mim a pensar "é hoje, vou entrar numa loja de vinhos e comprar um tinto português", mas assim que entrava e via os preços desistia e resistia a essa tentação. Desta vez também resisti. Quatro meses se passaram desde o meu último copo de vinho tinto. O que mudou? Ontem no supermercado encontrei uma garrafa de tinto alentejano que chamava por mim, chorava por mim e implorava-me para a trazer para casa. E trouxe. Paguei quatro vezes o seu preço em Portugal mas trouxe. Continua fechada em cima da mesa a olhar para mim e à espera de ser consumida. Porquê, se eu morro de saudades de um bom vinho tinto? Porque o saca rolhas custava 30 euros (!?!?!?!) e nessa eu não caí. Vou esperar a senhoria chegar a casa para pedir um emprestado e finalmente almoçar e deliciar-me com o nectar dos deuses. 

Ai...

Ontem foi um dia especial... tornei-me uma imigrante ilegal...

Eu explico: estou à espera da extensão do meu visto cuja resposta deveria ter saído até sexta, o meu último dia de legalidade. Como a burocracia aqui é complicadíssima a resposta não saiu e pronto... estou à espera que a policia me venha buscar e pôr fora. Brincadeirinha, tenho um papelinho mágico que diz que estou "aguardando resposta", logo não sou ilegal, mas se a resposta for não... tenho que pegar nas trouxas e sair do país, o que me garantiram que não vai acontecer, mas dá sempre aquele friozinho na barriga até ter a certeza.

Labirintos

Eu sei que os senhores das obras sabem que eu gosto de desafios, mas não precisam de fazer um labirinto novo todos os dias só para eu passar quando vou para casa. Além disso, os senhores das obras pensam que eu gosto de labirintos de nivel avançado porque são labirintos com obstáculos e às escuras. E nem é que eu vou para casa assim tão tarde. Na quinta-feira eram 8h da noite quando eu e uma outra rapariga ficamos presas no labirinto sem descobrir a saída. A única solução que arranjámos foi fazer um buraco na rede e sair por lá (eu tive que passar a bicicleta por cima da rede!). Os obstáculos também variam desde buracos fundos cheios de água, a pilhas de entulho, andaimes e carros estacionados no único sitio que daria para passar (um dia ainda lhes pergunto como é que conseguem enfiar um carro ali...). 

Ontem à noite encontrei a via direita da estrada cortada, pelo que me deliciei com a estrada só para mim durante uns 100m... pena que no final estava vedada com rede e tive que voltar os mesmos 100m atrás para voltar ao mesmo caminho de sempre pelo meio dos 3648254 andaimes.

Tendo em conta que isto são obras de melhoramento de vias de acesso ao estádio para o mundial de 2014, acho que vai ser sempre assim até eu ir embora do Brasil daqui a uns 2 anos...

Mais dias assim por favor

No mesmo dia um artigo aceite, uma proposta para escrever outro e um abstract escolhido como apresentação oral numa conferência.

Dias assim são muito benvindos!

PhD comics... soooooooo true!

Porque é que depois de um ano a morar no Brasil continuo branca como o leite? Não há nada que o PhD comics não explique...

Interrogatório

Ainda bem que não me esqueci das técnicas de interrogatório que estudei quando estagiei em Quimica Forense. Nunca se sabe quando são precisas... 

Ao corrigir relatórios, que neste caso valiam como exames, descobri que dois alunos copiaram o resultado final. Repeti os cálculos com as medidas deles e percebi que não tinham copiado um pelo outro, mas sim os dois de algum outro relatório. Como sou nova nestas coisas dei-lhes o beneficio da duvida e decidi confronta-los. Para isso usei as minhas melhores técnicas de interrogatório, que a mim não me fazem de parva. Chamei os dois alunos à sala ao lado, mandei-os sentar, fiquei em pé à frente deles e passeei-me à frente deles por uns momentos com os exames na mão. Quando olhei para eles já tremiam e assim que expliquei a situação desbocaram-se logo todos... sim, os nossos valores deram muito diferentes por isso copiamos os de um exame do ano passado (já mudavam os exames, não? Os mesmo há 10 anos...).

Safaram-se de um zero, porque pelo menos foram honestos, mas pouco mais lhes poderei dar. A conclusão da história no entanto é outra... aaahhhh como eu tenho saudades de trabalhar na área forense... Vou ali ver o CSI e já volto...

Melhorar a qualidade de vida

Regra 2: escolher sempre a opção mais segura para o regresso a casa.

Hoje as opções eram:
A: Ser atropelada ao vir em contra mão pela avenida em obras que não tem passeios.
B: Ser assaltada ao vir na mão certa da avenida que passa ao lado da favelinha.
C: Dar a volta pela outra avenida e ser raptada porque além de escura nunca por lá anda ninguém.

Escolhi a A e cheguei inteira...



(Mãe, as opções estão totalmente exageradas, ok?)

Melhorar a qualidade de vida

Regra 1: quando beber cerveja, não ir para casa de bicicleta pelo meio do campus a atropelar pessoas.

Quica

Hoje aprendi uma palavra nova com os meus alunos: quica!

A bola é solta de uma altura de 2m e depois de atingir o chão esta quica.

3 mm? Isso deve dar uns 2.5 m

Em 10 alunos, nenhum deles conseguiu converter 0.5mm quadrados para metros quadrados correctamente. Fiquei em estado de choque. Alunos universitários não conseguem fazer algo que o meu primo de 7 anos sabe fazer...

Cheguei ao laboratório e comentei isso com um colega. Ele como sempre, diz que é facil, e vai para o quadro onde desmonta uma equação super complicada. What??? Expliquei-lhe que na escola primária eu tinha simplesmente aprendido a canção do acrescentar zeros: metros decimetros centimetros milimetros. E pronto... 

Expliquei-lhe o meu método 3 vezes e ele não conseguiu entender.

Ok. Está tudo explicado...

O dia de ontem

Sexta feira. Dia de frequência para os meus alunos. Passo 3h a olhar para eles. Volto ao laboratório. Como já quase é tradição já lá está o M., o chefe à espera: "Sarinha!!! Vamos tomar cerveja?" Fomos então todos comer alguma coisa e beber. Lá encontramos um casal do departamento,  o casal que mais gosta de beber cerveja. E foi... e continuou a ser... e acabou tudo meio zonzo. Mais uma vez o meu treino em Évora persiste e consigo ficar menos bebeda que todos eles juntos. 

E a nova chefa do departamento, que pela primeira vez é uma mulher (o Brasil agora está assim, mulheres ao poder!), começou a querer abrir os olhos a dois machos que já mal viam o copo da cerveja. Ela, que anda a festejar a vitória há duas semanas e que já na universidade tinha estado a beber vinho, que depois misturou com cerveja, fazendo um cocktail explosivo na sua cabeça.

O restaurante começa a fechar. O empregado traz a conta. Numa tentativa vã de nos pôr de lá para fora começa a arrumar as mesas em volta. Não resulta. A gritaria eleva-se. A chefa já chora na casa de banho. Volta para a mesa depois de eu a confortar. Grita ainda mais. O empregado conseguiu que pagassemos mas não que saíssemos. Meia hora depois e já quase às escuras lá consigo arrastar o povo até ao parque de estacionamento, onde se repetem aos gritos as mesmas frases, pela 372534 ésima vez nessa noite... 

Dividem-se as pessoas pelos 2 carros. Reparo que os dois condutores são exactmente os senhores que já nem conseguiam abrir os olhos para ver o copo. Entre apanhar um taxi sozinha e ir no carro com um bêbedo a conduzir, escolhi a segunda... Foi interessante e tomei uma decisão: vou habilitar a minha carta de condução para poder conduzir no Brasil.

Lição do dia: bêbedos são iguais em todos os lugares do mundo. Bebedeira é uma variavel que não depende da idade, do estatuto, nem do género, mas sim do treino que se tem (as melhores escolas são definitivamente portuguesas, não me venham cá com histórias!) e da vontade de cada um.

Aos leitores

Contem-me a verdade, por favor... Perdi o dom, não perdi?

Hoje nem sem bem porquê acabei por ler alguns posts do meu antigo blog. Li os últimos 3 meses todos e ri-me como se nem tivesse sido eu a escrever os textos. Sinto que o blog era muito mais engraçado que este. Sinto que perdi o dom da escrita naturalmente engraçada.

A verdade é que morar num país como a Polónia também ajudava. Era tudo tão diferente que me acontecia cada uma... Mas O Brasil é diferente também, então o que se passa? Talvez a escrita engraçada fosse a minha fuga perfeita à desgraça dos meus dias. No fundo, estou orgulhosa de mim... Um dia vou ler aquele blog inteirinho, esquecer todos os dias infelizes que passei naquele país e lembrar só as histórias engraçadas que lá moram. 

Aqui no Brasil também tenho histórias engraçadas, acho que o que me falta é tempo. Mesmo sem teses para escrever, trabalho muito mais do que trabalhei durante o meu doutoramento. É que aqui, o grupo é unido e as pessoas ajudam-se umas às outras. Não fico só com o nariz enfiado nas minhas coisas.

Olha para mim aqui a tentar convercer-me a mim mesma de que a situação ainda é reversivel. E deve ser... então vou pensar sobre a última coisa engraçada que me aconteceu e fazer um post sobre isso...

Ahhhhhh, basta recuar ao dia de ontem...

Pelotas

Há muito tempo que não saio daqui, por isso dediquei-me a arranjar alguma coisa para fazer fora de Minas Gerais. E arranjei... descobri uma conferência de 3 dias na minha área em.... em... Pelotas! Essa grande metrópole no Rio Grande do Sul. Nem comento o nome da cidadezinha... Mas sei que fica encostada à maior praia do mundo, um areal com 150km de extensão. Pena que a conferência é em Junho, pleno Inverno.

Veremos o que Pelotas terá mais para oferecer.

Buracos e mais buracos

Estou cansada destas obras. A avenida principal por onde passo todos os dias está em obras há mais de um ano. Os peões têm que passar por uns caminhos marcados por redes cor de laranja no meio da estrada, que nem sempre são assim tão claros (mas não há problema porque há sempre uns 5 trolhas sem fazer nada que apontam o caminho). O pior é à noite. Tiraram todos os postes de luz, mas esqueceram-se de pôr uns provisórios, o que deixa a obra, e consequentemente os caminhos dos peões no meio da estrada, completamente às escuras. Mas pior que isso são os buracos que abrem durante o dia e deixam à noite, às escuras, sem sinalização. Pela segunda vez hoje, não me enfiei buraco adentro por pura sorte. Se da outra vez parei a 2m do buraco, desta vez parei com a roda mesmo em cima. É que o buraco foi aberto no meio do passeio, que estava completamente escuro, que fica uns bons 50m antes da obra e pelo qual passei de manhã sem sequer suspeitar que iria ali haver mudanças.

Sim, já sei... está na hora de comprar luz para a bicicleta... aqui quase ninguém tem, porque como os carros não respeitam bicicletas, andam sempre todas nos passeios onde há iluminação... 

À terceira vai ser de vez e eu não quero partir uma perna, é melhor prevenir...

Noticias

Depois de ter morado 3 anos na Polónia tenho que ouvir barbaridades como estas nos telejornais brasileiros...

Reporter na rua, com um casacão e luvas "Estou aqui nesta cidade, está muito vento um nevoeiro pesado e sobretudo muito frio. Neste momento estão 14 graus..."

E não consegui prestar mais atenção...

Quem?

Chego de manhã ao laboratório e alguém me diz:

Alguém: Morreu o Osama Bin Laden!

Eu: Quem? Sério? Não pode... Estou em choque...

Sentei-me e continuei a pensar... como é que pode? Assim do nada...

Dez minutos depois, bato com a palma da mão na testa e digo:

Ahhhhhh, morreu o Osama, não Obama!!! Ufa...

E ninguém parou de rir o resto do dia...

Em minha defesa tenho a dizer que a página de internet que o meu colega estava a ler sobre a noticia tinha duas fotos do Barak Obama... E eu não sou assim tão boa de nomes!

Ajudar o planeta

Os sacos de plástico gratuitos foram banidos nos supermercados. Tal como já acontece em Portugal há muitos anos, quem não tem saco pode comprar, mas deixaram de ser dados. 

Eu acho a ideia óptima. Na verdade fazia-me confusão ver a quantidade de sacos desperdiçados pelas pessoas, que causava uma enorme quantidade de sacos no chão, a esvoaçar, nas margens da lagoa, etc. 

Tal como há muitos anos atrás em Portugal, ouvi muitas pessoas reclamarem, dizerem que a ideia jamais vai dar certo e que é uma idiotice. Tal como há muitos anos atrás em Portugal, pensei que é tudo uma questão de tempo e de bons hábitos e honestamente está na altura do povo brasileiro se preocupar mais com o ambiente. 

Acredito que esta medida seja o início da diminuição de lixo nas ruas e nos canais de água. Vamos ver...

Mas que foi engraçado ver toda a gente a reclamar em voz alta, foi. Senti-me mesmo em Portugal há alguns anos atrás...