Nascida e criada em Portugal. Já morei na Polónia, no Brasil, na República Checa e agora é a Suécia que me acolhe.
O meu blogue, tal como o meu cérebro, é uma mistura de línguas. Bem vindos!

Born and raised Portuguese. I have lived in Poland, Brazil, Czech Republic and now I'm in the beautiful Sweden.
My blog, just like my brain, is a blend of languages. Welcome!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Manifestação em Atenas

Antes de voar para Atenas muitas pessoas brincaram comigo a dizer que eu não podia sair de lá sem ver a mais recente atracção da Grécia: uma manifestação. O que eu não sabia nessa altura é que sem querer eu me ia ver no meio de uma, a tentar escapar e sair de Atenas. Não foi tão dramático quanto o que parece, mas também não foi engraçado (a minha irmã acha que sim, mas ela é louca!). 

Era o nosso último dia em Atenas. Decidimos ir até à Rua Ermou, a rua das lojas. No fim da manhã percebemos que o topo dessa rua, onde fica a praça principal, estava completamente cheio de gente, reunida numa grande manifestação. Havia muitos cartazes, muitos rostos pintados e muita, muita gente. Nesse dia tínhamos planeado ir de autocarro até Rafina, um dos portos com ferries para as ilhas gregas. Como a paragem do autocarro ficava no lado oposto da cidade não ficamos preocupadas. 

Depois do almoço passamos pelo hotel para ir buscar as malas e perguntamos se o metro estava a funcionar. A recepcionista respondeu “mas claro que não! Hoje é o dia da grande manifestação, não há nada aberto e nada funciona!”, tudo isto num tom de quem pensa que nós somos burras, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo que havia uma manifestação e que estava tudo parado. E seria obvio, se soubéssemos da grandeza da manifestação. Era o 4º dia na Grécia e nunca em nenhum dia anterior ouvimos falar da manifestação. Provavelmente houve muitas noticias na TV, mas que turistas vêm TV em grego? Havia cartazes nas ruas, mas quantos turistas conseguem ler grego? Nem no hotel fomos avisadas, apesar deles terem a informação que o nosso check-out era no grande dia... 

Nessa altura, estávamos a ter os primeiros contactos com a manifestação e não tínhamos mesmo qualquer noção de onde nos estávamos a meter. Como nos disseram que mais tarde os autocarros estariam a funcionar, decidimos pegar nas malas a caminhar até à paragem. Num dia normal demoraria 30 minutos, nesse dia levou-nos mais de uma hora... 

Ao sair do hotel com as malas reparei que várias pessoas olhavam para nós como se fossemos loucas. Ignorei, até porque nos estávamos a afastar da praça principal. O que nós não sabíamos, é que a manifestação tinha mais do que um foco e que nós estávamos a caminhar em direcção a um dos maiores centros... com malas... 

(uh, isto está a ficar mesmo trágico! Mais uma vez reforço, não foi assim tão mau...)

Quando começamos a ouvir gritos da multidão mais e mais alto, percebemos que seria melhor desviarmo-nos e alterar a nossa rota. Atalhamos por ruas laterais onde nos cruzamos com a polícia de choque. Se em algumas ruas eles só estavam lá à conversa, havia outras em que estavam a ser atacados. Numa delas, havia uma multidão de gente a gritar contra a barreira policial (e nós mesmo atrás). Recuamos, começamos a andar na direcção contrária ao nosso destino. Ao mesmo tempo, ouvimos 3 estoiros fortes vindos dessa direcção. Por momentos, pensei que estávamos presas nessa rua estreita, mas logo descobrimos que o barulho tinha sido um quarteirão mais abaixo. Continuamos a andar, aleatoriamente, entre mais ruas pequenas tentando fugir do barulho. As poucas pessoas que víamos tinham os rostos todos pintados ou sujos. Passámos por uma zona completamente vazia com contentores do lixo a arder, havia gás lacrimogéneo no ar que fazia doer os olhos e dificultava a respiração. Já não sabíamos bem em que direcção estávamos a andar e só queríamos sair dali. 

Uma eternidade depois retomamos o rumo certo e começamos a ver pessoas, carros e normalidade. Tínhamos atingido o limite do centro da cidade e parecia que nada tinha acontecido. Isso foi impressionante, porque com a mesma rapidez que nos vimos envolvidas no meio daquela confusão toda, também saímos dela e a normalidade voltou. Encontramos o autocarro e descobrimos que os horários estavam normais e o próximo saía daí a 10 minutos. Perfeito! Entramos no autocarro e quando partiu tivemos aquela sensação de uf... safei-me desta. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Adorava saber das vossas voltas. Escrevam!
I would love to hear more about you. Feel free to comment!