Nascida e criada em Portugal. Já morei na Polónia, no Brasil, na República Checa e agora é a Suécia que me acolhe.
O meu blogue, tal como o meu cérebro, é uma mistura de línguas. Bem vindos!

Born and raised Portuguese. I have lived in Poland, Brazil, Czech Republic and now I'm in the beautiful Sweden.
My blog, just like my brain, is a blend of languages. Welcome!

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Stories of my world #12

I met him at work, in the pause room. He is a retired professor of the Chemistry department who comes and visits sometimes. Just before we met, I was in my office wondering if I should or not go to the afternoon break, because I had some stuff to do. I did go. As I prepared my tea, I noticed an available chair across from that man, with his shining white hair, probably aged by many years spent in the laboratory. I sat across him wondering if we had already been introduced or not. There are a lot of new faces to be remembered and his I could not recall. As soon as I sat down he said "you must be the new Portuguese girl". I am. And he replied, in strongly accented Portuguese, that he knew a few words in my language. He had visited many times a group in Brazil and ended up learning some essentials. He had also been in Portugal several times, although he found our Portuguese harder to understand. Not knowing how much he could speak I asked if we should change to Portuguese or continue in Swedish. He laughed and said I got it wrong, he couldn't really have a conversation in Portuguese. 

As I enjoyed my tea and he enjoyed his coffee, I told him how I had also lived in Brazil. We talked about how exotic the country is and shared opinions on how interesting experience it was to be able to live there. He asked me in which city I lived. As always, I replied Belo Horizonte, getting ready to explain where it is because not that many know. But he knew where it is. He not only knew where it is, but it was also the city where he lived in Brazil! In that huge country we both had lived in the same city!
Knowing he is a chemist I asked if he had visited a group in the Chemistry department of the local university. No, he replied, he was visiting a group in the physics department. What? I worked in the physics department for three years! In a 50.000 people university, we actually worked in the same department! His eyes were shining, as I'm sure mine were too, and we shared common experiences and places. We tried to find people we knew in common as well but that was harder, as his last visit to the department was in 1984, when my Brazilian ex-boss was not even a professor. 

That was how a common coffee break at work became a fantastic story. Another one to add to "the world is so small" collection. I love these. Especially the most unexpected ones. Like this one. Thank you S.




Conheci-o no trabalho, na sala do café. Ele é professor reformado do departamento de Química que aparece às vezes de visita. Pouco antes de nos conhecermos, estava eu no meu gabinete a pensar se deveria ou não ir à pausa da tarde, porque tinha algumas coisas para fazer. Mas fui. Enquanto preparava o meu chá, reparei que estava uma cadeira disponível em frente a este senhor, de cabelo branco brilhante, provavelmente envelhecido pelos muitos anos passados ​​no laboratório. Sentei-me à sua frente, pensando se já nos tínhamos conhecido ou não. Há muitos rostos novos à minha volta e não me conseguia lembrar do dele. Assim que me sentei, ele disse "deves ser a nova portuguesa que aqui trabalha". S, disse eu. E ele respondeu, num português com um acento forte, que sabia algumas palavras na minha língua. Já tinha visitado muitas vezes um grupo no Brasil e acabou por aprender algumas frases básicas. Também já esteve em Portugal várias vezes, mas encontrado o nosso Português mais difícil de entender. Não sabendo o quanto ele sabia falar, perguntei se deveríamos mudar para português ou continuar em sueco. Ele riu-se e disse-me que não sabia o suficiente para ter uma conversa em português.

Enquanto saboreava o meu chá e ele o seu café, disse-lhe que também eu já tinha vivido no Brasil. Falamos sobre o quão exótico é esse país e partilhamos opiniões sobre a experiência interessante que foi lá termos morado. Ele perguntou-me em que cidade eu vivia. Como sempre respondi Belo Horizonte, preparando-me para explicar onde fica, porque muitos não sabem bem. Mas ele sabia onde ficava a cidade. Ele não só sabia onde ficava, como era também a cidade onde ele esteve tantas vezes no Brasil! Naquele país gigante tínhamos morado os dois na mesma cidade!
Sabendo que ele é químico perguntei-lhe se tinha visitado um grupo no departamento de Química da universidade local. Não, respondeu ele, tinha visitando um grupo no departamento de física. O quê? Eu trabalhei no departamento de física por três anos! Numa universidade com 50.000 pessoas, tínhamos afinal trabalhado exactamente no mesmo departamento! O seus olhos brilhavam de entusiasmo, como de certo brilhavam também os meus, e partilhamos experiências e lugares comuns. Tentamos ainda encontrar pessoas que conhecemos em comum, mas isso foi mais difícil, uma vez que a sua última visita ao departamento foi em 1984, quando o meu ex-chefe brasileiro nem era sequer ainda professor.

E foi assim que uma pausa comum no trabalho se tornou numa história fantástica. Outra para adicionar à colecção "o mundo é tão pequeno". Eu adoro estas histórias. Especialmente as mais inesperados. Como esta. Obrigada S.

4 comentários:

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