O idioma dos incas era o Quechua. No entanto esta lingua era falada mas não escrita, pelo que frequentemente se vêem versões escritas diferentes para a mesma palavra. Cusco é uma delas. O mais engraçado é que os Incas talvez não se chamassem bem Incas, mas talvez Enkas, Ingas ou algo parecido. Por outro lado, houve poucos Incas. É que não era o povo que se chamava Inca, mas apenas os Reis eram assim chamados, pelo que na verdade apenas existiram pouco mais de uma dezena de Incas. Nos tempos modernos generalizou-se e hoje em dia chama-se Inca ao povo.
Confesso que me apaixonei pela história dos Incas. Eram um povo muito moderno e desenvolvido para a época e sabe-se lá o que teríamos hoje se os espanhóis não se tivessem portado como portaram. Mas continuando...
Cusco é uma antiga cidade Inca. Foi construída no formato de um puma, um dos três animais sagrados dos Incas (os outros são a cobra e o condor). Na cabeça do puma fica Sacsayhuaman (soa quase como "sexy woman"), que não tive tempo de visitar, mas que vi da janela do autocarro (melhor que nada).
A cidade fica a cerca de 3400m de altitude pelo que o melhor a fazer quando se chega a Cusco é... descansar... Eu não tive grandes sintomas de altitude (dores de cabeça, enjoos, coração a palpitar, cansaço), mas ficava cansada rapidamente. Principalmente a subir escadas. Depois de 10 degraus chegava lá em cima a arfar como se tivesse corrido que nem uma doida. Existe um remédio natural para a altitude que é chá feito com folhas de coca. Sim, essa coca mesmo. No Peru é legal fazer-se uso das folhas desta planta, e o chá tem só propriedades medicinais, mas não provoca efeitos especiais.
Depois de descansar algumas horas no hotel saímos para conhecer a cidade. As principais atracções ficam perto do centro e pode-se caminhar para todo o lado. A praça principal é novamente a Plaza de Armas, onde fica a Catedral e a Igreja de la compania de Jesus. A praça é linda! Muito antiga, bem arranjada e limpa. É nesta praça que fica também o pub Irlandês mais alto do mundo. Dizem que também é bom para curar os sintomas da altitude...
Igreja de la Compania de Jesus
Catedral de Cusco
No arco da esquerda a Catedral e no da direita a Igreja
As cruzes são sempre enfeitadas. Vi isso em todas as cidades.
Pormenor de uma fachada na Plaza de Armas
A uns minutos a pé da Plaza de Armas encontramos Coricancha (ou Qorikancha), um templo dos tempos Incas. Algumas paredes, soalhos e estatuetas no jardins eram cobertos de ouro. Quando os espanhóis invadiram a cidade, levaram o ouro, destruíram as paredes do templo e construíram uma igreja católica por cima, mantendo as bases feitas pelos Incas. Essas bases são muito mais resistentes que as construções espanholas, pois já houve vários terramotos que destruíram a igreja, mas todos os vestigios Incas continuam lá.
Coricancha
Os jardins
O pateo interior
(Não tenho mais fotos de Coricancha porque não é permitido fotografar o templo)
Um outro facto engraçado sobre os Incas é a sua adoração pela natureza: a água, o sol e as montanhas. Isso ainda é bem visível no povo Peruano. Além de adorarem a natureza e de gostarem de passear e caminhar pela natureza, tratam muito bem do nosso planeta. Querem um exemplo? Em todos os quartos de hotel onde estive havia cestos diferentes para a separação de lixo orgânico e inorgânico. O inorgânico é depois separado pelo staff em papel, plastico e metal.
O que pode não parecer tão agradável são os vendedores ambulantes sempre a tentar vender roupas de alpaca, recordações, e afins. Por um lado, é bastante chato estar sempre a dizer que não, mas por outro lado não se vê ninguém a pedir. Há pessoas pobres, mas nunca se sentam na rua de mão esticada. Em vez disso pôem-se ao trabalho, dedicam-se aos trabalhos manuais e vendem os seus artigos. Houve vezes que não queria comprar nada, mas o/a vendedor(a) parecia tão cheio(a) de esforço que acabava por comprar pequenas coisas só para poder ajudar. Além disso, as coisas que vendiam, principalmente as roupas eram quase sempre boas e de verdadeira alpaca, enquanto que nos mercados eram muitas vezes importadas do Chile...
As pessoas que não têm jeito para trabalhos manuais também se desenrascam. Vestem-se com roupas tradicionais, trazem o seu cordeirinho ou lama da quinta e permitem que os turistas tirem fotos com eles pela módica quantia de 1 nuevo sol (uns 25 centimos).
Outra coisa que gostei de ver foram aqueles trapos que servem de mochila. Primeiro pensei que era por as pessoas serem pobres e não terem dinheiro para uma mochila a sério, mas depois explicaram-me que aquela espécie de sacos é na verdade muito mais confortável. Sem partes duras, adaptam-se perfeitamente às costas e uma pessoa consegue carregar diversas coisas por mais tempo sem se cansar tanto. Inclusivé... os filhos. É bastante popular as mães carregarem bebés e crianças pequenas às costas, nestas mesmas sacolas.
Com tudo isto, ainda só estávamos no segundo dia e eu continuava a pensar... é impossível não se gostar deste país! E o melhor estava ainda por vir...
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