Sir Harry Kroto ganhou o prémio Nobel em química em 1996, por ter descoberto, juntamente com os colegas Richard Smalley e Robert Curl, o C60, uma molécula também conhecida por fullerene (futeboleno em português, porque parece uma bola de futebol). Esta é a terceira forma de carbono, que sempre existiu, mas nunca ninguém tinha percebido. Foi também o C60 que contribuiu para o aparecimento dos Nanotubos de Carbono, e mais tarde do Grafeno, cujos descobridores ganharam também o Prémio Nobel em 2010. Tudo isto só para dizer... que é nesta área que eu trabalho, no que muitos dizem ser os materiais do futuro.
Kroto visitou a minha universidade hoje e eu fui ver a palestra dele. A sala estava cheia e eu sentei-me no chão ao cantinho. Foi o próprio Kroto que me veio pegar no braço, para me dizer que já que estava sentada no chão, ao menos que me sentasse mesmo à frente. A mim se juntaram várias pessoas e o espaço entre o "palco" e a primeira fila ficou cheio, o que deu aquele ambiente informal, quase de jardim escola, com as crianças sentadas no chão para ouvir a história de encantar. E o que eu me encantei com aquela história...
Para começar, o senhor é super simples, bem humorado, descontraído e nada dado a estrelismos. Ao contrário dos organizadores que tremiam como varas verdes, e o tratavam como se fosse de cristal. Como os minutos antes de começar o seu discurso eram preciosos, os organizadores aproveitaram para fazer bastante publicidade a tudo o que quiseram (cerca de 20 minutos). Nesse tempo, Kroto sentou-se no degrau à minha frente, apertou a mão a mim e aos que estavam em volta e perguntou-nos como estava a ser o nosso dia. Como todos pareciam demasiado timidos para responder lá fiz eu a conversa. A certa altura pensando que estava na hora de começar, levantou-se. Mas não... Faltava ainda um senhor ir ao "palco" ler o email que o Kroto lhe tinha mandado em 1996: Dear João, Thank you so much! Harry". Ah... que interessante... O Kroto sentou-se no chão de novo. Esta vai ser a imagem de Kroto que eu vou guardar para sempre, vai ser a dele encostado à parede, sentado no chão com as pernas estendidas, com os fones no ouvido para ouvir a tradução e com um ar super feliz.
O discurso dele foi fantástico. Falou de tudo um pouco e foi muito motivador. São pessoas assim que tornam o mundo melhor. Simples. Acima de tudo simples. E muito alegres.
No final do dia quando vinha para casa vi-o de novo. Misturado com tantas outras pessoas, mas sem o magote de gente à sua volta. Foi um contraste bruto. Ver estudantes a passar por ele sem olhar duas vezes, enquanto que antes havia 2 pessoas a discutir se lhe deviam encher o copo de água ou não.
Foi interessante. Não me senti especial, porque já milhares de pessoas o ouviram, mas gostei de o conhecer pessoalmente. Valeu a pena as dores no rabo de estar sentada no chão duro durante 2h.
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